sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CACHORRO !!!

Ele chegou em casa um pouco além do horário habitual, nada mais que uma ou duas horas, causou estranhesa na mulher pelo fato de ser metódico, quase um relógio. Chegou mudo, sem explicações ou justificativas. Pediu o jantar, mas não sem antes abrir uma lata de cerveja como sempre faz. Perguntado pelo inusitado atraso, balbuciou com pouca confiança, que estivera com um colega de trabalho conversando sobre problemas na empresa. Bastou a explicação para a mulher sentir o cheiro. O coitado tinha bebido. Não foi muito que alterasse seu comportamento mas foi o bastante para ser questionado como se tivesse envenenado uma aldeia repleta de crianças e mulheres na Bósnia.
Em silêncio, purgando a culpa pelo dano irreparável que causou atrasando o relógio da vida em uma ou duas horas, saindo do script, violando o código da "confiança" e mais uma dezena de acusações sem pé nem cabeça, assim iria ficar, em silêncio, não tivesse a companheira exagerado e já no final do discurso dito : CACHORRO !!!
Até então não sabia ou nunca havia entendido o porque elas chamam a gente de cachorro. Ontem eu descobri.
O trânsito, sempre ele, seis da tarde, Av. Centenário, na grama, uns seis cães, como eu fazia com meus amigos na adolescência, andavam sem rumo, sem compromisso, sem hora e todos atrás de uma única cadelinha. Ali eu vi uma festa, uma farra, o próprio sentido da expressão ninguém é de ninguém.
Cachorro de rua é um cara bacana. Choveu, ele se esconde, abriu o sol, pode ver, tá na praia, come bem, escolhe o que quer, tem turma, raramente entra em briga, não tem ciúme, quando quer fica sozinho, quando acha oportunidade entra em qualquer lugar sem convite e não pode ver um rabo de saia que entra na gandaia. Fora um atropelo ou outro, coisa que acontece com qualquer um de nós, têm vida longa, uma pulga aqui, outra ali, uma sarna, mas quem não adoece nesse mundo?
Nosso amigo do início da história, roupeu o silêncio, se emputeceu com a injutiça e nunca mais chegou no horário.
Eu diferente dele, muito bem adestrado, caninamente fiel, sigo meu destino, cumprindo meus horários, justificando meus horários, afinal foi a escolha racional que fiz.
Mas se um dia, depois que eu morrer, você encontrar um cachorro de óculos numa avenida dessas, tenha certeza, fui eu que reencarnei.

3 comentários:

  1. eu ainda sou daqueles que acham que deve existir vida após a morte,oooopsss,após o casamento!!!
    e para os dois..essa coisa de que devem fazer tudo 100% juntos,é do passado,não deve haver libertinagem e nem exageros,mas uma reuniãozinha com amigos ou amigas,ah,isso é normal e saudável!

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  2. Guardadas as devidas proporções, deve ser realmente o paraíso,comer quando der fome, dormir quando der sono, não ter que dar qualquer satisfação a quem quer que seja e finalmente morrer quando sua hora chegar. O problema disso tudo é o tal do $, quem vai sustentar essa cachorrada toda????

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  3. Doutor!!!Tem momentos que da vontade de viver que nem cachorro,não ligar para nada.Mais como perguntou nosso colega Navalhinhas quem vai patrocinar essa cachorrada toda?!!!

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