segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A BARBA

Li, já não me lembro mais onde, que Deus deu ao homem barba para que lhe servisse de ornato e lhe conferisse autoridade. Não a faça por um punhado de dias e se terá um monstro.
Os tempos são outros e enquanto eles foram passando, a barba ocidentalizada é aquela feita todos os dias. No século em que nasci, não te-la bem escanhoada era por estar doente ou sem dinheiro, o que quase dá no mesmo.
De uns anos prá cá, artistas e copiadores destes é que inventaram o padrão de beleza, barba por fazer. Como prá quem gosta, catinga é cheiro, tem que use assim e respeito ao gosto alheio é obrigatório.
Tenho, em função do que vi meu pai fazer por toda a vida, o hábito de fazer a barba todas as manhãs, ainda mais agora por estar quase toda branca, mas sempre achei um saco e chego a dizer que mulher reclama de menstruação que é mensal, porque não sabe o que é ter que fazer a barba diariamente.
Com o amadurecimento, veio inevitavelmente a reflexão sobre quase tudo que faço e a barba não seria uma exceção.
Percebi que é fazendo a barba quando olhamos mais detidamente para nós mesmos e alí naquele confessionário particular percebemos que não há espaços para a mentira, não há fuga da realidade.
Este encontro serve para sorrir com o canto da boca, vibrando com uma vitória, simularmos conversas sérias que teremos com alguém, nos envergonharmos de coisas erradas que fizemos (os que tem vergonha), pedirmos desculpas a quem não temos coragem para encarar e principalmente nos olharmos nos olhos, espelho da alma.
Hoje em particular ví as marcas do tempo, pequenas linhas como num mapa, indicando os caminhos que percorri e apontando a estrada que seguirei.
Fazer a barba portanto é gesto e hábito que serve muito mais que apenas deixar a cara limpa.