Hoje quem quiser me aturar terá que ter paciência, pois a conversa será parecida com aquela que já tive no passado, quando trouxe para Salvador um menino que nasceu numa ilha e não entendia para onde iam os degraus da escada rolante do shopping, e como é que eles faziam para aparecer novamente lá embaixo. Ali percebi que certas coisas com as quais convivemos são tão difícieis de entender como são difíceis de explicar. Elas apenas acontecem, não existem para ter explicações por fazerem parte de um dia a dia que vai, às vezes lento às vezes rápido , apenas nos engolfando, sem chances de perguntar nem de ter, ou dar, respostas.
Deixa de circular hoje o Jornal do Brasil. Fundado ainda no século IX, teve Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Clarice Linspector, Carlos Drumond de Andrade, Carlos Castelo Branco, Armando Nogueira e centenas de outros colaboradores deste nível e outros tantos menos citados.
Nesta província, recebo a Tribuna da Bahia e suas quinze ou vinte páginas gratuitamente, com carimbo de cortesia, na portaria do prédio. O Correio da Bahia já vi na sinaleira vendido a 50 centavos e o Jornal A TARDE, não atinge tiragem superior a 150 mil exemplares e a venda deve ser inferior a 50% disso.
O Jornal do Brasil será agora exposto na Internet. E dai ? O jornal como o conhecemos está acabando. Dizem que os três de maior circulação, O GLOBO, A FOLHA DE SÃO PAULO e O ESTADÃO, vendem menos de 300 mil exmplares por dia e somos quase 190 milhões de pessoas.
Mal me acostumei ao celular e ele está ameaçado pelo tablet, não este enorme de hoje, lançado em abril mas o de ontem que tem de um indiano a promessa de etsra no mercado até o final do ano por 35 dólares a unidade. Com população mundial perto dos 5 bilhões, pode até cair de preço em cinco anos.
O jornal era a forma de leitura diária, fácil, barata, à mão , democrática, fazia homens em praças, reunirem-se para discutir política, futebol, crimes, versões, fofoca, enfim, a vida.
Numa música pouco conhecida dos anos 60, assustado com o avanço da televisão e o poder da novela, Chico Buarque escreveu : " O homem da rua com seu tamborim calado já pode esperar sentado, sua escola não vem não. A sua gente está aprendendo humildemente um batuque diferente que vem lá da Televisão. E a própria vida ainda vai ficar sentida vendo a vida mais vivida que vem lá da televisão. No céu a lua encabulada e já minguando numa nuvem se ocultando vai de volta pro sertão "
Estava ali apontado o caminho para o começo do fim. O tempo agora é hip hop, Tiririca, mulher fruta, CQC, iPOD e outras invenções.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
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