terça-feira, 27 de outubro de 2009

PORTO DA DROGA

Desde os anos 70 eu frequentava o Porto da Barra, até me casar em meados dos anos 80. Em 25 anos devo ter ido à praia não mais que umas 20 vezes.Frequentar significa estar lá todos os dias, ou quase todos, conhecer Marco Polo, beber choop no Van Gogh,ou querer, sem ter dinheiro frequentar o Berro D'agua, ver a rapaziada surfar na frente do Hospital Espanhol, dar susto em travesti, pegar puta, ir simplesmente à praia, ver vôlei, assistir as gêmeas jogarem frescobol, procurar gringa fazendo topless, comprar picolé na mão de Henrique, ver o por do sol com a namorada da estação, passear na feirinha de artesanato aos domingos e obviamente curtir o melhor banho de mar do mundo. O Rio de Janeiro que me perdoe, rendo a ele todas as homenagens, mas banho de mar, é o do Porto da Barra. Me aventurei nas águas de Miami, Vinã del Mar e até Nice mas a temperatura desta água e a calma daquele lugar, só ali.
Pois é, o Porto desde sempre teve seu lado, maconha, hippye, rasta, alemão tarado, italiano safado, pivete. Sempre foi um pouco a nossa Copacabana mirim, miniatura daquele mundo de praia, mas conserva até hoje, aquele ar de veraneio, com seus velhinhos jogando peteca na sombra das árvores às seis da manhã ou batendo papo na água ainda fria, sob os primeiros raios do dia.
O que não combina entretanto com lugar nenhum, é essa coisa da invasão do crak, muito menos com o Porto. Hoje um jornal traz na sua capa o mapa da droga no Bairro da Barra e vemos as pessoas que lá ganham a vida como vendedores ambulantes e baianas de acarajé, assustados ante à violência dos usuários e os moradores abandonando as ruas logo que o sol se põe.
O crak, sub produto da cocaína, uma pedrinha de lixo que aquecida solta uma fumaça, que inalada leva o sujeito a experimentar logo após 20 segundos um estalo de euforia que dura apenas 5 minutos, está se alastrando pelo país afora numa velocidade endêmica.
Quem faz uso desse troço, pode ficar viciado na primeira investida. Nos cinco minutos do barato, tudo tá bom, o problema vem depois na abstinência que pede outra e mais outra pedra. Em um mês pode-se perder até 8 kg. A fome vai embora, o desejo sexual também, a noção de tempo espaço, qualquer noção de higiene e a falta da droga gera o pior, o comportamento violento.
O mesmo porto que recebeu os curiosos portugueses séculos antes, nós e tantos outros depois, recebe agora os mendigos do crak. A imagem mais degradante do que pode esse flagelo impor a uma geração inteira. São criaturas que parecem haver saído de um clip de Michel Jackson, farrapos que em nada lembram gente da raça humana.