segunda-feira, 6 de abril de 2009

O JOGADOR

Este texto nasce da observação de como estes dias modernos, sem apego a formalidades,de mudança de conceitos, de queda de tradições, pode influênciar os destinos de gerações inteiras. Imaginei então o que diria um desses personagens anônimos da crônica policial que invade nossas casas todos os dias pela televisão : "Meu nome não interessa. Sou pai. Não estudei quase nada, não fiz curso profissionalizante, vivo de bico, sou quase encanador, quase pedreiro, quase eletricista, moro na periferia, vivo do trabalho que consigo. Fiz uma filha que nasceu loira, puxou à mae, dei sorte, ela é linda. Minha filha será modelo ou atriz. Preciso de horizonte melhor do que eu mesmo pude traçar. Aposto nela.
Modelo não deu, atriz até agora também não mas como sou um homem de sorte, ela encontrou um jogador de futebol. Jogador de futebol adora loira. Não é que minha filha aos 16 anos está grávida de um rapaz que joga no time do São Paulo, júnior ? Daí para o Milãn é um pulo.
Acho que minha filha não veio com a sorte que eu vim, deve ter puxado à mãe. O rapaz saiu do São Paulo,abandonou o futebol e foi beber e bater nela longe de mim, lá no interior da Bahia.
Minha filha voltou, me disse que um goleiro de time grande está apaixonado por ela, garota linda, esperta, agora sim , vai dar tudo certo.
Aos 18 anos minha filha está morta. Uma facada certeira acabou com os meus e os seus sonhos. O jogador foi preso e o goleiro, que era casado disse que mal a conhecia.
Meu neto homem é loiro, órfão de mãe com pai preso. Será que tem jeito prá bola ? Pode ser que sim, pode ter puxado o pai e eu ainda posso ser um avô de sorte".