Notícias comuns e triviais não vendem jornais, disso também sabemos. Assim, uma tempestade aqui, um terremoto lá, já era para ser motivo de alvoroço à turma do "furo", da instantaneidade da informação.
Nada mais aconteceu no mundo na semana passada que estivesse fora do fórum de Santana em São Paulo. Todos à cata de detalhes do julgamento dos Nardoni. Antes deles a prisão daquele safado travestido de governador de Brasília e antes desse o terremoto no Haití. Teve um fim de mundo no Chile que já foi esquecido e um tremor no México que abalou a costa oeste americana mas nada sensacional que merecesse horas de transmissão e relatos pungentes cheios de emoção.
Neste momento em que o planeta está quase se partindo ao meio, uma tempestade no Rio de Janeiro, dessas que matam 107 pessoas em 24 horas, bastou para que a imprensa ficasse em polvorosa, excitados com a tragédia que se abateu sobre a Cidade Maravilhosa, como se tudo não estivesse previsto num script macabro.
Eles lamentam, mas babam de excitação a cada boletim com mais mortes.
Os mortos de ontem viviam pendurados nas encostas do Brasil inteiro ,e os que ainda não morreram esperam a sua vez para virarem estatística. A imprensa vive da notícia imediata, da notícia fresca, essa é a que interessa. Enquanto não morrem, essas pessoas não valem lá muita coisa.
Todos sabemos que a imprensa é considerada o quarto poder, somente ela pode mobilizar multidões para tirar um presidente, viabilizar ou inviabilizar candidaturas, transformar anônimos em celebridades, idiotas em astros.
Quisesse ela, exporia governos e governantes, não trocaria notícia por cargos e levaria a verdade sem maquiágem ou meias verdades, colocaria pontos nos "is". De ontem prá frente,uma campanha nacional pelo fim da licenciosidade criminosa da ocupação desordenada do solo urbano. Haverá ? Duvido.
Assim como não haverá o fim do crime e neste planeta o que não faltará serão tragédias para serem mostradas, os jornalistas continuarão em festa.
