Quanto tempo dura o sinal vermelho ?Varia de acordo com a importância do cruzamento.
Essa vida que vai ficando a cada dia mais tensa, mais nervosa, mais sem graça, nos faz parar por instantes num cruzamento, ou vários deles ao longo do dia.
Esta semana dediquei essa fração de segundos para observar a cena no entorno desses sinais de trânsito. Há alguns, em que o tempo é maior, em que a oferta de produtos é variada : Água mineral, H2o ( que não é água ), balinhas penduradas no retrovisor, folhetos imobiliários, cadeirantes (nem sempre incapazes), frutas, muitas frutas, rosas, taboca e até gafanhotos feitos de palha de coqueiro.
Tudo isso é fruto da evolução, do desenvolvimento, da sensível melhoria das condições de vida da população mais carente. É cada vez mais raro vermos o mendigo tradicional. Ninguém ou quase ninguém mais, apenas estende a mão em busca da esmola. Existe hoje em dia um certo espírito empreendedor por trás dessa gente que acordou para os efeitos da globalização.
Ou será que nós, os poderosos, os consumidores, motoristas de ar condicionado e vidro elétrico, vivendo melhor e mais antenados com a modernidade, como diz o filósofo Fausto Silva, "conscientes do nosso papel na sociedade", é que não aceitamos mais essa coisa de simplesmente dar uma moedinha aqui e ali ? Queremos sim a prestação de serviços, a praticidade em comprar com o simples toque no botão do vidro para garbosamente adquirirmos instantaneamente bens e serviços, sem contribuir com a "malandragem ".
Mesmo assim, ainda estamos anos luz do resto civilizado do mundo. Assim como em Buenos Aires que já tem metrô desde a década de 40, os mendigos de lá dão um baile nos daqui.
Ainda sem metrô, parado num sinal desses, vejo um sujeito calçado com uma sapatilha, usando uma calça de cetim preta, colete aberto, em cima de uma pequena escada, executar um número de malabares com facões. Após fazer aqueles arremessos conhecidos, puxa uma venda e executa o movimento sem ver nada e com um facão apoiado na testa. Quase foi aplaudido.
Mais à frente em outro sinal no mesmo dia um esquálido brasileirinho, semi nú, moído pelo crac tenta fazer um "número" onde os três pedaços do cabo de vassoura caem a todo o tempo diante à absoluta falta de controle motor do garoto. Quase foi ignorado.
As eleições estão aí. As fichas sujas dos malandros estaduais e federais continuam escondidas em passes de mágica. São os equilibristas.
Aqui no chão da rua, seguem os malabaristas, a cada trinta segundos, lançando prá cima meio minuto de vida, para nós com a primeira marcha engatada não fazermos nada e seguirmos em frente.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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