Na manhã ensolarada de sábado, a vizinha cumprimenta a outra enquanto desce a ladeira segurando um pacote de qualquer coisa, segue assim falando com um e com outro na rotina comum à periferia onde vive. Mais tarde, carros com som alto, cerveja em cima dos tetos crianças sem camisa correndo de um lado para o outro. Conversa de vizinhos, dominó na porta dos bares, garotas abraçadas a cadernos, futebol na areia, esgoto cortando a rua, vida normal, difícil,mas para quem se acostumou a ela, normal.
Já chove a quase vinte dias com intervalos de poucas horas de sol. Salvador derreteu. A cidade que nunca foi "maravilhosa", agora sucumbe sob as águas e o caos se instala, pois nesses momentos afloram as fragilidades da província, que tomada pelo sol no verão, maquiada, esconde, as marcas de uma senhora abandonada. A pintura cedeu, o rímeo escorre, as rugas aparecem.
Antes de sair de casa para enfrentar o trânsito passeio pelos canais de televisão em busca de informações de com fazer para chegar com menos transtorno ao escritório e vejo uma reportagem local, que me chamou a atenção.
Em virtude das fortes chuvas, várias casas desabaram ou estão desabando na periferia, até aí é normal se é que se pode acostumar com isso. O inacreditável na matéria é saber que aqueles que moram nessas encostas estão tendo as suas "casas", ou barracos, saqueados pelos vizinhos. Saqueiam o que ? Se são vizinhos não devem ter muito mais que o outro, então o que resta na lama de alguém que passa por isso que possa servir a outro ? A lama é coletiva.
Seria a vizinha saqueada a mesma que foi descrita na cena da "comunidade" acima ?
Que tipo de gente é essa que está sobrando nesse mundo de tempestades, que desolação é essa que pasmos assistimos do fim da cordialidade, do respeito, da solidariedade ?
O tempo está feio e não são só nuvens escuras que nos ameaçam. Somos nós mesmos, brutalizados.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
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