segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

IRONIA PURA

Aos 61 anos Elson Maranhão é sem dúvida nenhuma a prova do que uma mistura de cerveja, genética, natureza ruim, sorte e a medicina podem fazer para espichar a permenencia de um ser sobre a terra. Conheço a figura desde 1986, trabalhamos juntos numa experiência das arábias, dividimos horas em copos e a vida foi nos distanciando mas não o bastante para continuarmos amigos.
Recusando-se a morrer, Maraca, sobrevive a vários stents, alguns enfartes, sustos e sobressaltos, levando a vida da maneira que todos deveríamos levar, sem dar a ela importancia demasiada. Fuma muito, bebe ídem, dorme tarde, acorda cedo, come o que lhe oferecerem, não usa relógio e detesta conselhos. Encontrou uma mulher espetacular que além de de um filho lhe deu toda a paciencia que podia haver no estoque do Pão de Açucar, se é que paciencia se vende em mercado.
Atualmente sei que ele sai pouco, o suficiente para acabar o dinheiro da aposentadoria, explico, se a fortuna sair hoje ele sai junto. Joga, dança, fuma, bebe, flerta ( não acredito que prevarique), tenta mais não consegue e só volta prá casa, destruído e não menos arrependido, depois que o dinheiro acaba. Detalhe dois ou três dias depois.
Careca, óculos fundo de garrafa, magro, irreverente e absolutamente anarquista. Aí está o seu princípio de vida. Não consegue respeitar uma norma, não acredita em nada e depois de velho ficou viciado em Internet. Nunca dê seu e-mail a ele senão vai passar a receber diariamente mais de 50 mensagens e notícias sobre TUDO o que está acontecendo nesse planeta que ele descobriu ser pequeno e mais louco que ele.
Numa dessas mensagens, inclusive a recebi hoje, ele faz uma avaliação perfeita sobre algo que temos que refletir. Avalia Elson que tendo investido muito em aproveitar a vida desregradamente e ainda assim sobrevivido e chegado aos 61 anos, como a expectativa de vida do brasileiro subiu para 73, ele ainda terá mais, em tese 11 anos de tempo para assistir pelas contas dele, duas copas do mundo, duas olimpíadas, onze carnavais, cinco ou seis eleições, umas trinta novelas, dez big brothers e no rítmo atual, uns sessenta escandalos políticos.
Maldita medicina, prolonga a vida para que a gente tenha que viver mais sem nada de realmente novo, num planeta quente, ameaçado de falta d'água, se abaixando de bala perdida e cada vez mais cheo de gente.
É muita ironia viver para isso, mas é mais irônico concluir isso. Esse cara tem tudo de esculhambado mas não tem nada de maluco. Um beijo velho Elson Maranhão.