Crescemos cercados de frases, poemas, músicas, enfim, tudo o que pode produzir a rica e aparentemente inesgotável criatividade humana para definir o amor. Esse não sei o que, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porque, não é 100% assim.
Desde o final de 2006 estou sem jardineiro e perdi o que tinha, justamente porque o rapaz descobriu não sei como a dor de saber-se corno.
Não satisfeita em mandá-lo embora, a perversa colocou para dentro da casa o menino que ela entendeu de acabar de criar, à custa da dor do chifrudo.
Procurado por ele, resolvi abrigá-lo em casa para unir o útil ao agradável ,ou seja, economizar um jardineiro e ganhar um caseiro que até piscineiro era. Por um ano, esse moço trabalhou bem, cuidou de tudo e não me causou problemas.
Sem que eu soubesse tentava uma reconcilação, o que no seu entender parecia estar próxima e também no seu entender, "cair é do homem, levantar é de Deus". Voltou a namorar, parecia um adolecente quando na folga voltava da casa que um dia já foi dele.
Enternecido, eu enxergava em toda a história a vitória do amor.
Na minha coleção de frases tem uma que aprendi com Luciano do Vale, comentarista de futebol que diz : Porteira que passa um boi passa uma boiada. Poderia ter trazido outra como "cesteiro que faz um cesto faz um cento ", mas essa do boi me pareceu mais apropriada. E não foi que a criatura aprontou novamente e dessa vez com um amigo do nosso amigo ?
Em prantos, ele tentava esconder a decepção e levar a vida, até que um dia, pela primeira vez fedendo a pinga me disse : "Dr., não lhe desejo uma coisa assim, se fosse uma dor de dente até cabeçada na parede cura, tem remédio, mas isso não, é demais.
Enquanto ouvia, eu que já tive muita dor de dente, imaginei de longe do que poderia ele estar falando e numa falta de tato ainda maior, disse-lhe que a pior dor era a do cálculo renal, outra especialidade minha em questão de dores. Nada adiantava, consolo de corno é o tempo.
Um dia cheguei em casa, o jardim abandonado, tudo aberto, a cadela com fome. O corno enloquecido fugiu e deixou tudo para trás, por amor. Nunca mais tive um jardineiro.
Hoje pela manhã olhei o meu jardim em plena primavera, florido, é verdade, mas carente de hábeis mãos de um bom jardineiro. Saí em busca de um e acabei entrando numa loja dessas de mudas e plantas. Pedi ao gerente que me indicasse um bom jardineiro e ele afirmou conhecer pelo menos três e que deixasse nome e telefone. Escrevi tudo num papel e quando ía saindo da loja, virei-me e disse ao gerente : Antes de acertar pergunte se o cara é corno.
Triste, o gerente me respondeu : Assim vai ser difícil arranjar alguém !
Ou tá faltando jardineiro ou está sobrando corno. Torcendo para ter dor dente ainda essa semana, voltei para casa e ansioso esperei meu amor voltar do trabalho.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
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