Lamento que apenas quatro séculos afastem Miguel de Cervantes de nós. Fosse hoje, Sancho Pança, o fiel escudeiro de Don Quixote, perderia feio para Hélio, "Helinho de Belinha", o meu fiel escudeiro. Não que seja eu um cavaleiro errante em busca da justiça e de consertar o mundo e nem que persiga a minha Dulcinéa, para quem todas as vitórias justificariam a honra em conquistá-la, mas de ter a meu lado um fiel e devotado escudeiro, crédulo e corajoso, disponível a toda hora, um bravo a espera da recompensa maior que é o reconhecimento do seu trabalho.
Ostenta o mesmo bigodinho infâme do personagem da Castilha, atrapalhado, se perde no roteiro a ser feito enquanto atento, "viaja" na conversa que travo no celular, mas no final, mesmo que seja meia hora depois do previsto, acabamos chegando sãos e salvos.
Não que eu seja do tamanho de Quixote, ele é que menor que Sancho, usa óculos, tem glaucoma mas dirige como poucos. Só um louco contrataria um motorista quase cego, eu não, de louco tenho pouco, de destemido sim, tenho muito. Temos cinco anos de estrada e até hoje pela manhã nada. Vai dizer que é sorte ?
Ouvimos no rádio do carro um programa sobre dúvidas da população sobre sexo, tiradas por uma sexóloga toda terça e quinta às 19:00 horas. Às gargalhadas, ele prefere as minhas respostas às da especialista, já que as minhas são populares e diretas, sem censura e sem termos médicos.
Não fosse ele motorista, poderia ter optado pela função de segrança, mesmo que fosse somente para festas infantis, ou salva vidas de aquários, já que declara-se uma pedra. Quando vai à praia mede a água, quando atinge o joelho, senta e tá lavado. Se passar daí, afunda .
Hoje pela manhã, o percebi cantarolando uma música no rádio do carro. O cantor é Alceu Valença e o refrão da dita canção é em francês, lingua que convenhamos Helinho de Belinha não domina, trata-se da história da moça bonita da Praia de Boa Viagem, com os olhos azuis como a tarde a tarde de um domingo azul... "a belle d'jour".
Percebi que o final da frase cantada por Helinho de Belinha saia baixo, meio constrangido, então pedi que ele dissesse o que entendia e ele soltou : "a pele de lá embaixo", por educação e respeito.
Para o meu fiel escudeiro a música elogia a pele do pescoço (em francês). Achei então que assim ficava até melhor e para mim, encantado com a poesia de Sancho é assim que cantarei daqui para a frente.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
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