quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SER CIDADÃO

Apenas pelo fato de haver cursado Direito, muitos dos meus amigos ainda me tratam como se advogado fosse . Sendo apenas bacharel, vejo-me frequentemente encalacrado com perguntas que , pela amizade gostaria de responder, mas que , se considerarmos que saí da Faculdade a exatos 25 anos que completarei em dezembro próximo, tudo ou quase tudo que poderia restar de memória jurídica, foi sendo apagada por conta da modernização legal e do apetite nacional em criar leis novas, a maioria só escritas, nunca cumpridas.
Mesmo assim, volta e meia sou procurado por um ou outro para dar meus palpites, coitados !. Após ouvir as perguntas repito sempre, já como filósofo amador, que Direito é bom senso, maxíma que ouvi do sábio Manoel Ribeiro e que jamais cairá em desuso.
Superada a etapa da frase, ensino sempre que o queixoso deve exercer de forma implacável a cidadania e provocar a justiça para que se manifeste e cumpra o seu "munus", estabelecendo o equilíbrio indispensável à sociedade.
Numa dessas, induzi o meu querido amigo Otoch, homem sério, rígido, militar por opção, servidor da pátria por vocação, daqueles que um pedido é sempre uma ordem e até na leitura deste blog, imprime uma fidelidade digna de nota, a ser cidadão.
Pois bem, lá se foi Otoch, encaminhado por mim, exercer cidadania, procurar um juizado desses que não havia em meu tempo, mas que veio para agilizar e desobstruir o Fórum de pequenas causas, para obter da justiça o reconhecimento de que seria obrigação da seguradora, pagar pelo banco do seu carro que foi destruído numa batida em que ele foi vítima e ela após fazer todo o serviço, declarou que o banco do carro, sabe-se lá porque estava fora do âmbito do seguro.
Hoje ele me ligou, decepcionado. O cara é tão direito que ainda se decepciona.
Completa amanhã um ano da colisão, ele foi por três vezes ao Juizado Especia Cível localizado na Faculdade Jorge Amado, que por problemas técnicos de informática, leia-se sistema fora do ar, sequer agendou a prestação da queixa para marcar a audiência, com um "conciliador", nome dado ao advogado que sugere um acordo para diminuir o trabalho do juiz.
Venceu a seguradora. Nosso valente Otoch, cansado, desistiu de reclamar pois para ele ser cidadão ainda é um sonho distante. Mais um sonho distante.