quarta-feira, 21 de outubro de 2009

FOTOS QUE FALAM, PESSOAS QUE CALAM

Ah, como eu gostaria de saber escrever para ser capaz de em poucas linhas traduzir toda a tristeza que carrego comigo, num pungente lamento humano, demasiadamente humano, mas eu não sei escrever.
Ah, como eu gostaria que essa sensação de tristeza fosse passageira mas ela está em mim faz tempo, perguntando sem resposta porque tive que estar neste mundo justamente nesta época, ou ser como sou, pensar como penso e não ter mais esperança.
Ao abrir o jornal hoje pela manhã, me deparo com a foto de um homem, semi-nu, escoriado, morto, jogado dentro de um carrinho de supermercado.
Os populares em volta olham com a naturalidade que a rotina vicia.
Essa foto, emblema dos nossos dias, não assusta mais ninguém. Essa foto não precisa de mais nada por conter tudo. Inclusive por ser foto, o silêncio dos circunstantes.
Um corpo humano, dobrado, inerte, sem mais nada para ser, fazer, viver.
Se o mundo tem gente demais, se a distribuíção de renda é injusta, se as políticas públicas não existem para atender os mais fracos e pobres, se a droga..., se as armas... se qualquer coisa ou todas elas servem para criar o ambiente onde se pode acabar desse jeito, só me resta a tristeza e a desesperança.
Que sensação ruim, olhar essa foto e não saber o que escrever por não saber escrever. Que poema serviria para atingir o coração das pessoas ? Nenhum.
Que palavra não foi dita que pedisse o fim disso ? Nenhuma.
Que nos resta fazer ? Fazer algo, não calar, mesmo que seja para não ser ouvido.
A maravilhosa máquina humana que um dia foi Einsten, Mozart, Caravaggio, Gandi, e tem sido Pelé, Federer, Bolt, Lennon e tantos de nós, homens, não pode jamais resumir-se a um corpo inerte num carrinho de mercado.
Ah, como eu gostaria de escrever o bastante que me devolvesse a esperança, que me aliviasse a tristeza......