segunda-feira, 11 de maio de 2009

O POVO JÀ ESTÀ LÀ

A mídia, sempre ela, de cabelos em pé, dá dimensão à provocação de um deputado federal eleito pelo povo, branco de olhos azuis, do Rio Grande do Sul que teria afirmado estar se lixando para o povo e com ares de preocupação, nos convida a debater.
Quem seria o povo no entender do deputado, nós contribuintes. O povo não tem um único CPF ou endereço, é um conjunto de pessoas, aliás um montão delas. Somos nós todos. Será que nos conhecemos de verdade ?
Quando estamos dirigindo um táxi e damos umas voltinhas para faturar, estamos nos lixando para o resto de nós.
Quando vendemos 80 centímetros de tecido e cobramos um metro estamos nos lixando para o resto de nós.
Quando damos um desconto ao paciente que acabamos de receitar o remédio pelo qual o laboratório nos patrocinou um seminário, para que ele não peça recibo, estamos nos lixando para o resto de nós.
Quando adulteramos com um imã uma balança para vender 800 gramas e cobrar um quilo, estamos nos lixando para o resto de nós.
E assim é com quase tudo nessa salada de país, construído de golpe em golpe de latifúndio em latifúndio, de sesmarias, capitanias, governadores gerais, coroneis, oligarcas e o povo sem nada prá contar.
Quando um deputado desses, que compra o voto do povo que por sua vez quer brindes, empregos e asfalto na porta porque não sabe o papel do legislativo, ambos estão com as faturas quitadas. Nenhum dos dois pode reclamar do outro. O povo não quer ouvir o que cara tem a dizer antes da eleição, ou quem é ele e o que fazia, o candidato quer saber apenas o que dizer e o que fazer para ter a procuração para agir.
O pior cenário entretanto é descobrir que a maciça maioria do povo daria um olho para receber mandato, broche e ser tratado enfim de Vossa Excelência.
Pior ainda é concluírmos que de tanto fazer aqui, e com exagerada frequencia estas coisas o povo não percebeu ainda que ele já está lá e devidamente representado.