quinta-feira, 4 de junho de 2009

GREVE DE INTELIGÊNCIA

Ontem eu fiz greve, ninguém notou, ninguém reclamou mas tenho a consciência tranquila de não haver prejudicado ninguém com o meu protesto silencioso. Não postei nada.
Já estive em 25 países, num sem número de cidades mundo afora e já presenciei manifestações públicas de descontentes com empregos e salários, como num protesto de canadenses portando faixas e cartazes em Toronto, num passeio público, em silêncio, desfraldando bandeiras e andando em círculo o que chamou a atenção da imprensa que fez a devida cobertura o que atingiu o objetivo do grupo e pude ver à noite, no hotel que alguns deles foram recebidos pela direção da empresa.Não sei no que deu, mas o meu dia eles não estragaram. O problema não era público, era deles e eles entendem o âmbito do individual. Fosse um problema do coletivo aí sem dúvidas as ruas seriam tomadas.
Noutra ocasião, estando em Santiago, presenciei as manifestações pelo retorno de Pinochet, fotografei inclusive as faixas de protesto e os manifestantes andando, num calçadão. O mundo tomou ciência disso e olhem que era a volta ao país de um ditador sanguinário.
Na França, dia sim, dia não há um protesto e a vida da população só sofre alguma alteração se esse protesto envolve uma relevente questão nacional. Vandalismo de jovens são considerados caso de polícia e como tal reprimidos.
Já aqui, nesta cidade esquecida, sem cultura, onde impera o axé, o arrocha e seus sucedâneos, grupelhos de qualquer categoria, sem nenhum senso sindical, orientação política ou razões que não as meramente pessoais, invadem ruas e avenidas, aos olhos da polícia e ao arrepio de qualquer lei e decidem quando querem paralizar a vida de milhões de pessoas por horas.
O que conseguem com isso é apenas o repúdio da sociedade ou dos demais, não especificamente interessados. Estão hoje uns contra ou outros, eu sou contra a sua paralização e voce contra a minha, voce bagunça a minha vida hoje e eu bagunço a sua amanhã. O que eu queria ontem voce não sabe e o que voce quer hoje eu não quero saber.
Desde sempre o que há de comum é a greve de inteligência, greve de respeito. Sabem porque não fazem isso aos domingos ? porque a greve é de inteligência. Já imaginou a repercussão de uma passeata, com cobertura da imprensa e atenção da população num dia inusitado?
Não, estão todos na praia, melados de bronzeador, sacudindo suas adiposidades, tomando cerveja, ouvindo pagode e quebrando carangueijo, em plena greve de inteligência.